Arqueólogos estudam urnas funerárias achadas em região remota do AM
em região remota do AM
Um achado arqueológico em uma área de várzea, na pequena cidade de Fonte Boa, interior do Amazonas, a 680km da capital Manaus, revelou segredos sobre como vivem os povos amazônicos. As novas evidências desafiam a antiga tese de que as várzeas dos rios amazônicos eram ocupadas apenas temporariamente pelos povos ancestrais, mas sugerem a presença contínua e adaptada dessas áreas há séculos, talvez milhares de anos atrás.
Debaixo das raízes de uma árvore tombada, os moradores da região encontraram sete urnas funerárias enterradas a 40 cm de profundidade. Pesquisadores do Instituto Mamirauá, vinculado ao Ministério da Ciência, foram chamados e confirmaram que dentro de uma delas, havia fragmentos de ossos humanos e de peixes. Para eles, indícios das práticas rituais e de alimentação desses povos.
As urnas têm características inéditas para a região. Foi identificado o uso de uma argila esverdeada (algo raro), além de fragmentos de desenhos com traçados inéditos, que não estavam associados à tradição conhecida sobre os povos ancestrais do Alto Solimões, como explica o arqueólogo Márcio Amaral.
A retirada das urnas também deu trabalho. Por causa das condições do terreno e do difícil acesso fluvial, as escavações tiveram que ser feitas sobre uma estrutura de madeira e cipós construída a mais de 3 metros do chão com a ajuda dos próprios moradores, como também explica o arqueólogo Márcio Amaral.
As urnas foram levadas para análise, na cidade de Tefé, em viagens de 10 a 12 horas em canoa. Os artefatos estavam dentro de um sítio arqueológico formado por "ilhas artificiais", que são espécies de aterros, feitos séculos atrás, em áreas alagáveis. Os terrenos elevados tinham casas com a possibilidade de realização de atividades sociais, mesmo durante a cheia dos rios. O estudo desse conjunto de "ilhas" vem sendo feito há mais de uma década pelo Instituto Mamirauá em 2020.
Segundo o arqueólogo Márcio Amaral a engenharia indígena necessária para erguer as áreas de várzea, com terra cavada das proximidades, é muito sofisticada e comprova que havia grande densidade populacional na região de floresta do Alto Solimões.
*Com produção de Beatriz Evaristo e reportagem de Gabriel Corrêa
Edição:
Ana Lúcia Caldas / Edgard Matsuki
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